Maior unidade de saúde de referência para atendimento pediátrico do Distrito Federal, nesta terça-feira, 29, o Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB) tinha apenas uma pediatra no plantão na tarde da terça-feira, 29. Ela cuidava de 12 crianças já internadas, orientava duas médicas residentes e tinha 12 crianças com classificação de risco amarela aguardando na porta. Faltam pediatras, neonatologistas e obstetras no HMIB.
Uma dessas pacientes que aguardava sofre de asma e, conforme informou a mãe, esperava atendimento desde as 8h30 da manhã. Para socorrer a pediatra, um intensivista pediátrico, desceu da UTI para fazer uma drenagem em uma paciente que estava intubada na emergência. Somente duas horas depois do horário do fim de seu plantão, a criança foi finalmente transferida para um leito de UTI em outra unidade de saúde.
Esse foi o cenário que o presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF), Dr. Gutemberg Fialho, encontrou no HMIB nesta terça-feira. “A situação da pediatria é preocupante e os problemas também atingem a neonatologia e o centro obstétrico. O motivo do problema é a falta de médicos”, aponta Dr. Gutemberg. Os plantões da pediatria, via de regra, contam com um ou dois especialistas.
Na UTI neonatal, pelo déficit de profissionais, 10 leitos estão fechados. Na tarde da visita, 35 leitos estavam ocupados, com três especialistas no plantão.
No centro obstétrico, para tentar driblar a insuficiência de profissionais, instituiu-se um sistema de escala flutuante. Os médicos com carga horária de 40 horas semanais , podem ter apenas 24 horas em horário fixo e os de 20 horas, apenas 12. Com isso, os médicos mais antigos e mais cansados da rotina do trabalho em emergência têm ficado responsáveis pelos plantões dos finais de semana e os que entraram mais recentemente, atendem nos dias úteis.
Esse sistema foi adotado como uma experiência para resolver um problema pontual, mas tem se prolongado, criando ainda mais descontentamento e sobrecarregando profissionais mais propensos ao adoecimento.
Uma paciente se queixou de que não havia funcionário para fazer a ficha das pacientes na unidade e elas eram obrigadas a atravessar o hospital para o preenchimento do documento. Com um número insuficiente de pediatras, o HMIB tem perdido esses especialistas por aposentadoria e pedidos de demissão. O Pontal InfoSaúde, da Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF), aponta que hoje há 61 pediatras lotados na unidade. Em 2025, 32 deles terão tempo suficiente de trabalho para aposentadoria. E não há nenhum plano da SES-DF para reposição dessa força de trabalho. Entre janeiro e outubro deste ano, o quadro de pediatras da SES-DF passou de 451 para 431 especialistas.