Já desfalcado, HRT pode perder um quarto dos médicos a partir de 2025

Já desfalcato, HRT pode perder ainda mais médicos

O número de partos realizados no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) foi o menor dos últimos 10 anos, em junho de 2024. No quadro geral, a média de partos realizados no HRT está abaixo da média histórica e tende a cair nos próximos meses.  Isso se deve à insuficiência de neonatologistas no quadro de servidores lotados naquela unidade de saúde. A falta de médicos também faz cair a produtividade da unidade de saúde e prejudica a assistência aos pacientes nas demais especialidades médicas. Já desfalcado, o HRT pode perder mais médicos.

Com apenas 17 neonatologistas (520 horas semanais de trabalho), os partos prematuros, com menos de 32 semanas, deixaram de ser realizados no hospitale passaram a ser direcionados para o Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB). As escalas de plantão não fecham e os profissionais se desdobram, muitas vezes sozinhos no plantão, para prestar atendimento em leitos de UTI neonatal (UTIN), de cuidados intermediários (UCIN) , na sala de parto e no centro obstétrico.

A medida adotada pela Secretaria de Estado de Saúde do DF (SES-DF) para mitigar o problema foi reduzir o número de leitos: quatro na UTI neonatal e seis na unidade de cuidados intermediários neonatais.  “A solução para o problema é a contratação de mais profissionais. O GDF deveria atuar para aumentar a oferta de assistência. Fechar leitos não resolve o problema da falta de profissionais, sobrecarrega outras unidades de saúde que já funcionam além do limite e aumenta a desassistência à população”, aponta o presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF), Dr. Gutemberg Fialho.

A queixa da falta de condições de trabalho médico e de prestação de assistência aos recém-nascidos foi o motivo da visita técnica feita pelo presidente do Sindicato ao HRT na tarde da terça-feira, 5 de novembro.

Desfalcado, HRT sofre com superlotação

Os problemas da unidade de neonatologia não foram os únicos encontrados pelo presidente do SindMédico-DF. Na emergência da clínica médica, onde há 50 leitos, havia 59 pacientes apenas da clínica médica, além de pacientes da cirurgia geral e vascular e da ortopedia. As macas, com pacientes homens e mulheres misturados, se espalham pelos corredores e até os bancos são usados para internação.  Dois clínicos atendiam na emergência e um na UTI. O atendimento de porta só ocorre para os casos de classificação grave.

Na ortopedia, também com três médicos no plantão, as condições de trabalho são precárias. Os pacientes ficam internados por mais tempo que o devido e, segundo relatado, só chegam a ser operados quando os quadros de saúde já se agravaram e quando são maiores as probabilidades que de que os pacientes ficarão com sequelas provocadas pela demora na assistência.

A pouca quantidade de anestesistas no quadro de servidores é um dos motivos da demora nas cirurgias. Mas também há queixas de falta de materiais como parafusos e placas para a realização dos procedimentos cirúrgicos. Não têm sido realizados procedimentos anestesiológicos por profissionais terceirizados das empresas contratadas pela SES-DF. Ainda assim, em 2024, o HRT realizou uma média mensal de 159 procedimentos cirúrgicos.

Um quarto dos médicos do HRT poderá deixar o serviço público a partir de 2025

Sem a readequação do número de médicos no quadro de servidores lotados no HRT, a situação deve se agravar. Segundo o Portal InfoSaúde (consulta realizada na tarde de 7/11), o HRT conta com um total de 497 médicos. Desses, 119 foram admitidos no serviço público até o ano de 2006. Ou seja, com 25 anos de atuação, um quarto dos médicos hoje lotados no HRT já terá cumprido os pré-requisitos mínimos para a aposentadoria.

Desconsiderados  eventuais pedidos de demissão, a equipe de neonatologistas pode cair de 17 para 12 profissionais. Na clínica médica, pode-se perder 12 dos 43 médicos atualmente lotados no HRT. A situação ainda é mais grave na pediatria, especialidade em que 21 dos 56 especialistas lotados no hospital poderão se aposentar. “Temos apontado, ao longo dos anos, que é de importância vital a adequação das condições de trabalho e de remuneração para a reposição do quadro de profissionais que se afastarão e, mais ainda, para a necessária expansão da oferta de assistência a uma população crescente”, afirma Dr. Gutemberg Fialho.