Outubro é o mês das crianças, um período em que deveríamos celebrar a infância. Porém, ao cruzar a sala de espera do Hospital Regional de Planaltina (HRPL), nos deparamos com uma realidade alarmante, que em nada faz querer festejar. Crianças, mães e famílias inteiras aguardam por atendimento. Muitas vezes por horas, em macas espalhadas pelos corredores da emergência. Esse ambiente de espera e ansiedade é reflexo direto do déficit de médicos. Incluindo pediatras e neonatologistas, que atinge o HRPL de forma brutal, criando uma barreira preocupante para um direito fundamental: a saúde.
O HRPL, que possui o título de “Hospital Amigo da Criança” do Ministério da Saúde, e já foi referência na especialidade, realiza cerca de 200 partos mensais. Mas, a falta de pediatras e neonatologistas compromete gravemente a assistência aos recém-nascidos e às crianças. Com a equipe reduzida, o hospital limita o atendimento aos casos mais graves. Um dos pilares do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e da Constituição Federal – que garante o direito à saúde para todas as crianças e adolescentes – está em risco neste hospital.
E a solução emergencial proposta pela Superintendência da Região de Saúde Norte expõe fragilidades profundas: é, no mínimo, bizarra. Na ausência de neonatologistas, médicos de outras áreas são chamados para atender emergências neonatais, o que eleva os riscos para os pequenos pacientes e coloca os profissionais em situações de insegurança e pressão extrema. Recentemente, duas anestesistas foram obrigadas a atuar em emergências pediátricas sem ser, efetivamente, suas áreas de atuação. Quando isso acontece, temo, a precariedade chegou ao seu nível máximo!
Outro ponto crítico é o transporte dos recém-nascidos via SAMU, cuja estrutura neonatal é limitada e nem sempre conta com especialistas para o acompanhamento. Para recém-nascidos que precisam de cuidados intensivos, esse transporte improvisado pode colocar vidas em risco, aumentando a vulnerabilidade de um sistema que deveria protegê-los.
A crise no HRPL pode se aprofundar em 2025, quando 15 contratos temporários de médicos clínicos chegarão ao fim, sem garantias de renovação. Essa perspectiva já levou o Conselho Regional de Medicina do DF a emitir um indicativo de interdição ética nos serviços de pediatria e neonatologia do HRPL no último 8 de outubro. Se a situação não for resolvida em 10 dias, a interdição será concretizada, privando as famílias de Planaltina de um direito básico e essencial.
Essa situação é um reflexo direto da falta de investimento e valorização da saúde pública no DF. Até quando enfrentaremos essa realidade? Chega de promessas. Queremos soluções! Porque, antes de agosto, a SES-DF afirmou que a situação do déficit de médicos seria resolvida. E não foi! Em resposta, o SindMédico-DF, em parceria com órgãos de controle, cobra do GDF medidas reais para assegurar segurança e dignidade tanto para os profissionais quanto para os pacientes que dependem do SUS-DF. O tempo de espera passou para todos!