Déficit de médicos: recém-nascidos em risco no Hospital de Planaltina

Déficit de médicos: recém-nascidos em risco no Hospital de Planaltina

A sala de espera do Hospital Regional de Planaltina (HRPL) vive lotada. Pacientes se espalham em macas pelos corredores da emergência. Na sala de espera reinam a angústia e a irritação pela demora no atendimento. Entre os profissionais de saúde, o clima é de apreensão e desânimo. Foi esse o cenário que o presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF), Dr. Gutemberg Fialho, encontrou na visita realizada àquela unidade de saúde na tarde da quarta-feira, 9/10. O déficit de médicos é motivo de queixas dos usuários e servidores e fator de risco no Hospital de Planaltina.

O Hospital de Planaltina, que tem o título de Hospital Amigo da Criança, conferido pelo Ministério da Saúde, realiza uma média de 200 partos a cada mês, mas não tem mais capacidade para prestar assistência aos recém-nascidos e nem tem pediatras para atender mais do que os casos graves com classificação vermelha.

A situação foi tema da reunião realizada no SindMédico-DF, na noite de quinta-feira,11. Além de médicos lotados no Hospital de Planaltina, participaram da reunião médicos do Hospital de Sobradinho, para onde estão sendo encaminhados os recém-nascidos e os pacientes pediátricos que a reduzida equipe do HRPL não consegue atender, um representante do Ministério Público e um representante da Comissão de Direito da Saúde da OAB-DF.

O problema é o déficit de médicos no Hospital de Planaltina

A equipe de neonatologistas do HRPL conta com apenas 10 médicos, sendo que duas são pediatras. Desses, seis estão afastados em licenças prolongadas e apenas quatro profissionais teriam que se revezar nos atendimentos na sala de parto, na maternidade (40 leitos) e na unidade de cuidados intermediários neonatais (UCIN), onde, depois de sucessivos fechamentos, apenas seis leitos funcionavam.

Em função desse déficit de profissionais, a UCIN foi fechada e o hospital passou a atender apenas gestantes com mais de 36 semanas de gravidez. Os recém-nascidos internados na UCIN foram transferidos para o Hospital Regional de Sobradinho (HRS), junto com parte da equipe de enfermagem (que também é deficitária) e os leitos foram bloqueados. Mas o Hospital de Sobradinho também sofre com o déficit de pediatras e neonatologistas (entre outros especialistas da área médica e demais profissionais de saúde).

Plano de emergência não dá segurança a pacientes nem a médicos no Hospital de Planaltina

Como os partos continuam sendo realizados no Hospital de Planaltina, os quatro neonatologistas não são suficientes para cobrir as escalas no centro obstétrico e aí o plano de contingência instituído pela Superintendência da Região de Saúde Norte é falho: pediatras, anestesiologistas ou qualquer outro médico que estiver no hospital, em caso de necessidade, terá de socorrer as emergências neonatais – sem o preparo adequado, o que, por si só, pode implicar em uma assistência inadequada: risco para o recém-nascido aumentado e profissionais colocados em situação de insegurança profissional.

Pior que isso, no caso dos anestesiologistas, eles são colocados na situação de decidir qual paciente vão socorrer, seja no caso de terem que dar assistência à mãe e ao recém-nascido. Também podem estar fazendo acompanhamento de pacientes recém-saídos do centro cirúrgico e, novamente, ter que tomar a decisão de quem ficará desassistido.

No último final de semana, duas anestesiologistas tiveram que prestar atendimento de emergência, sem se sentirem preparadas (porque não eram procedimentos de sua especialidade), a duas crianças pequenas, uma vítima de afogamento e outra que foi atropelada. Felizmente, as crianças foram estabilizadas e transferidas, mas essas ocorrências são constantes e estão levando os médicos ao esgotamento mental e físico.

O plano de emergência também prevê que os recém-nascidos que precisam de cuidados neonatais devem ser transferidos imediatamente para o Hospital de Sobradinho e define que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) deve fazer o transporte. Mas o SAMU tem apenas uma unidade neonatal e não conta com especialistas em tempo integral para acompanhar os pacientes. Por isso,  o plano prevê que enfermeiros e técnicos de enfermagem façam o transporte – se houver no percurso uma intercorrência para a qual um desses profissionais não seja habilitado, pode haver um desfecho trágico.

Nem na pandemia o caos teve a dimensão atual

Ao ouvir os relatos dos médicos, o vice-presidente da Comissão de Direito à Saúde  da OAB-DF, explicitou que tem participado das diversas reuniões promovidas pelo SindMédico-DF na busca de soluções para as crises que se sucedem na saúde pública do DF. “Nem na pandemia da covid-19 eu vi uma situação tão difícil na saúde do DF”, afirmou.

“Também foi reafirmado na reunião que os contratos temporários de 15 especialistas em clínica médica serão encerrados no início de 2025, sem possibilidade de renovação. Ou seja, a crise causada pela falta de mão de obra vai aumentar ainda mais no Hospital de Planaltina. A própria falta de neonatologistas pode acabar levando à interrupção do atendimento no centro obstétrico e o Hospital de Sobradinho não tem estrutura nem equipes suficientes para assumir essa demanda”, aponta o presidente do SindMédico-DF, Dr. Gutemberg Fialho. No dia 8, o Conselho Regional de Medicina do DF (CRM-DF) emitiu um indicativo de interdição ética nos serviços de pediatria e neonatologia do Hospital de Planaltina, com prazo de 10 dias para que a SES-DF solucionasse o problema de déficit de pessoal. O SindMédico-DF encaminhou a ata da reunião do dia 10 aos órgãos de controle e o Ministério Público já sinalizou que também tomará providências para cobrar do GDF a solução do problema no HRPL.